Materiais em contacto com alimentos

Hoje em dia, a vasta maioria dos itens usados no contacto com alimentos – seja no seu embalamento e transporte; seja em todo o tipo de acessórios que usamos em casa para armazenar, cozinhar e servir alimentos; seja no take-away/pronto a comer – envolve plástico, mesmo que por vezes não seja aparente porque aparece combinado com outros materiais. Há boas razões para isso, uma vez que o plástico é um material impermeável, leve e versátil,  caraterísticas que o  tornam muito prático  no contacto com os alimentos.

O plástico apresenta, contudo, vários perigos para o ambiente e para a nossa saúde. Muitas das suas propriedades são o resultado da adição de químicos – tais como plastificantes, estabilizadores ou corantes – que são adicionados no processo de fabrico. Estes aditivos podem libertar-se e misturar-se com os alimentos – sobretudo quando são aquecidos, expostos a gordura e a ácidos, mas também face ao desgaste provocado pelo uso. Deste modo, estes químicos perigosos acabam por entrar no nosso corpo e acumular-se progressivamente, ameaçando a nossa saúde.

Também o papel e muitos dos materiais hoje apresentados como alternativa ao plástico (bioplásticos, materiais compostáveis, biodegradáveis, etc.) podem conter aditivos que contaminam os alimentos, em particular em situações semelhantes às descritas acima para o plástico – acidez, gordura, temperatura. Um dos exemplos mais conhecido é o dos PFAS – habitualmente designados como forever chemicals devido à sua muito elevada persistência.

A regulamentação europeia na área dos materiais em contacto com os alimentos necessita de uma revisão urgente, algo que deverá acontecer nos próximos dois anos.

Conselhos práticos

  • Compre produtos a granel sempre que possível! Evite comprar alimentos embalados em plástico, papel ou outros materiais como os bioplásticos, compostáveis ou biodegradáveis.
  • Evite embalagens de plástico com os códigos 3,6 e 7. Um exemplo do código 3 é o PVC que está muitas vezes associado à exposição a ftalatos e outras substâncias perigosas. O código 6 é o esferovite ou poliestireno expandido, que pode conter benzeno, uma substância cancerígena. O código 7 representa outras misturas de plástico, ou seja, surgem em embalagens com vários polímeros, podendo conter aditivos variados.
  • Evite produtos enlatados. As latas têm normalmente um revestimento de plástico interior que evita a corrosão do metal, mas que pode conter bisfenóis, uma família de substâncias que pode interferir com o nosso sistema hormonal.
  • Evite embalagens descartáveis de take away/pronto a comer que sejam plastificadas e/ou contenham substâncias químicas. As películas plásticas e as substâncias químicas são adicionadas ao papel, cartão, bioplásticos, materiais compostáveis e biodegradáveis para os tornar à prova de água e de gordura. Os PFAS são algumas das substâncias usadas para este fim, sendo que podem interferir com o nosso sistema hormonal e são persistentes.
  • Use os seus próprios recipientes reutilizáveis – de preferência em vidro, cerâmica ou aço inoxidável – quando vai buscar refeições a um supermercado ou restaurante. Desde julho de 2021 a legislação portuguesa garante esse direito a todos os consumidores (quer para o pronto a comer, quer para outras compras a granel em charcutaria, talho, peixaria, padaria, etc).
  • Nos casos em que não consegue evitar comprar alimentos embalados em plástico ou outros materiais que possam conter aditivos, ao chegar a casa transfira-os para contentores reutilizáveis em materiais naturais – desse modo, reduzirá o tempo de contacto dos alimentos com as embalagens descartáveis.  Tal é particularmente importante no caso de alimentos quentes, gordurosos ou ácidos.
  • Nas situações em que compra alimentos embalados, dê preferência a formatos grandes. A área de contacto entre o alimento e a embalagem é proporcionalmente menor.
  • Utilize garrafas de água reutilizáveis em vidro ou aço inoxidável. Muitas garrafas reutilizáveis de plástico podem libertar químicos como os ftalatos e os bisfenóis.
  • Não use películas aderentes para envolver alimentos- poderá optar por soluções reutilizáveis de tecido revestido com cera de abelha, já existentes no mercado.
  •  Nunca aqueça os alimentos nas embalagens descartáveis,  mesmo que a embalagem refira que o pode fazer. Evite usar plásticos no micro-ondas.
  • Ao cozinhar, evite o contacto com qualquer item de plástico, especialmente em situações de maior instabilidade (envolvendo aquecimento, alimentos ácidos ou gordurosas, abrasão e desgaste)
  • Prefira tábuas de corte em madeira ou aço inoxidável: evitará a libertação de produtos químicos e de micro plásticos que surgem com o desgaste. Se quiser poderá higienizá-las periodicamente, esfregando-as com sal e sumo de limão. Aplica-se a mesma lógica aos outros utensílios que usa para cozinhar, incluindo a colher de pau que não deve ser de plástico.
  • Evite panelas e frigideiras antiaderentes que contenham Teflon – também chamado de revestimento PTFE. Quando aquecidas a altas temperaturas, libertam vapores tóxicos e substâncias perigosas, sobretudo se esse revestimento não estiver em bom estado. Para evitar o risco, elimine as panelas e frigideiras com teflon à medida que estiverem gastas, substituindo-as por soluções em ferro fundido, cerâmica ou aço inoxidável.
  • Adote uma atitude vigilante em relação a todos os materiais em contacto com os alimentos. Verifique os pictogramas que constam nos artigos: indicam se foram pensados para o contacto com alimentos. Um dos pictogramas mais importantes é o “símbolo do garfo e do copo”.
  • Se tiver dúvidas e quiser saber mais sobre as substâncias químicas que estão nos produtos que usa no dia a dia utilize a aplicação Scan4Chem e pergunte ao produtor/fornecedor.